domingo, 10 de setembro de 2023

 



HOMILIA DO 23º DOMINGO DO TEMPO COMUM

A liturgia deste abençoado domingo 23º do tempo comum, nos convida a uma reflexão profunda sobre nossa sagrada responsabilidade perante os irmãos que caminham ao nosso lado. Ela nos lembra, de maneira inequívoca, que nenhum de nós pode permanecer indiferente diante das ameaças que se erguem contra a vida e a felicidade de nossos irmãos, pois todos somos, inquestionavelmente, interligados em nossa responsabilidade uns para com os outros.

Na primeira leitura, encontramos a imagem do profeta como uma "sentinela" designada por Deus para vigiar sobre a cidade dos homens. Como um vigilante atento aos desígnios divinos e à realidade do mundo, o profeta discernia com clareza o que perturbava os planos de Deus e prejudicava a felicidade dos seres humanos. Como sentinela responsável, ele cumpria seu dever de alertar a comunidade sobre os perigos que pairavam sobre ela.
Na segunda leitura, o apóstolo Paulo nos convoca, a todos os cristãos de Roma e de todos os cantos do mundo, a centralizar nossas vidas na prática do mandamento do amor. É uma "dívida" que temos com todos os nossos irmãos, uma dívida que, sob a luz divina, nunca poderá ser completamente quitada.

O Evangelho deste domingo se desdobra em três ensinamentos de Jesus que regulam aspectos cruciais para o futuro da Igreja: a correção fraternal entre os fiéis, o poder de ligar e desligar concedido aos apóstolos e a seus sucessores, e a eficácia da oração coletiva.

A mensagem de Jesus não nos transforma em seres imaculados, mas nos exorta a amar uns aos outros, independentemente de nossas imperfeições e falhas. Uma prova concreta desse amor é a assistência mútua por meio do perdão e da correção. Com esse primeiro ensinamento, Jesus nos convida a adotar o papel de juízes compassivos, que abordam com compreensão aqueles que erraram em seus caminhos.

Portanto, "a prática da correção fraternal, com base na tradição evangélica, é uma demonstração de afeto sobrenatural e confiança. Devemos agradecer quando a recebemos e não devemos hesitar em praticá-la com aqueles que compartilham nossa convivência." A correção fraternal, conforme ensinado pelo Papa Francisco, evita a "amargura no coração que abriga raiva e ressentimento, levando-nos a insultar e a ferir. É profundamente inapropriado ver um cristão proferindo insultos ou lançando ataques. Insultar não é compatível com a essência do cristianismo."

Muitos Padres da Igreja discorreram sobre a correção fraternal, considerando-a um ato nobre e um gesto de amizade genuína. Eles extrairam implicações práticas das palavras de Jesus. Por exemplo, Santo Agostinho instruiu seus fiéis: "Devemos, portanto, corrigir com amor, não com a intenção de causar dano, mas com a carinhosa intenção de buscar a melhora. Agindo assim, estaremos cumprindo bem o mandamento."
Em relação ao segundo ensinamento de Jesus (versículo 18), o Catecismo da Igreja Católica explica que as palavras "ligar" e "desligar" significam que aqueles que excluímos da comunhão também são excluídos da comunhão com Deus, e aqueles que reintegramos em nossa comunhão, Deus também os acolhe em Sua comunhão.

A reconciliação com a Igreja está inextricavelmente ligada à reconciliação com Deus. Após abordar a reconciliação entre irmãos, Jesus confere aos apóstolos o poder de reconciliar os fiéis com a Igreja. Esse poder é normalmente exercido por meio do sacramento da confissão, administrado pelo confessor, que recebeu tal autoridade do bispo, o sucessor dos apóstolos.

Por fim, Jesus menciona que "outro fruto do amor na comunidade é a oração coletiva", como afirmou Bento XVI. Certamente, a oração pessoal é crucial, senão indispensável. No entanto, o Senhor promete Sua presença à comunidade que, mesmo que pequena em número, permanece unida e harmoniosa, pois essa comunidade reflete a própria essência do Deus Uno e Trino, uma comunhão perfeita de amor. Quando oramos juntos, não apenas imploramos a Deus por Suas graças, mas também recebemos Sua presença entre nós, o presente mais valioso que podemos e devemos buscar.

Conforme ensina o Magistério da Igreja, "Cristo está sempre presente em Sua Igreja, especialmente nas celebrações litúrgicas. Ele está presente na Eucaristia, quer na pessoa do ministro - 'O que é oferecido pelo sacerdote é o mesmo que foi oferecido na Cruz' - quer nas espécies consagradas. Ele também está presente nos sacramentos, de modo que quando alguém é batizado, é o próprio Cristo que batiza. Ele está presente em Sua palavra, pois é Ele quem fala quando a Sagrada Escritura é lida na Igreja. E, finalmente, Ele está presente quando a Igreja reza e canta juntamente, pois Ele prometeu: 'Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, ali Eu estarei no meio deles'."

Neste domingo, somos lembrados de nossa responsabilidade de amar e cuidar uns dos outros, de corrigir com amor, de perdoar e de permanecer unidos em oração, pois é assim que manifestamos a presença de Cristo em nossa comunidade e cumprimos nosso papel como discípulos do Senhor. Que estas sagradas lições inspirem nossos corações e guiem nossas ações,






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